Por Carta Capital
O Brasil adormeceu nesta quarta-feira, 17 de maio de 2017, sem saber as respostas para muitas das perguntas essenciais cobradas pelo passo seguinte de sua história.
Mas a principal delas para ir direto ao ponto --dispensando-se o retrospecto da implosão da frente golpista, com as gravações de pedidos de propinas feitas aos donos do JBS por Aécio Neves e Michel Temer— é saber se a mobilização popular será capaz de preencher o vazio vertiginoso que se abriu agora não apenas na cúpula política, mas na estrutura do poder na sociedade.
As instituiçõesque dão coesão a uma sociedade fundada em conflitos de interesses agudos, como é o caso da brasileira, cujos abismos de desigualdade são sabidos, estão no chão.
Não há legitimidade no parlamento.
O judiciário tornou-se a armadura desfrutável do assalto das elites contra as urnas, na farsa de um impeachment – confirma-se agora-- arquitetado com uma escória a soldo.
A mídia foi a voz da exortação e da institucionalização desse esbulho.
Como será o amanhã de uma nação na qual o amálgama político foi destruído em nome do combate à corrupção. E sob esse biombo faiscante operou-se a viruloenta destituição de direitos arduamente conquistados em um século de lutas democráticas?
O conservadorismo está na defensiva.
A plutocracia perdeu seu manto moral.
Desnudou-se como uma devoradora selvagem de libras de carne humana barata.
Moro e seus promotores terão que se explicar :por que nunca abriram o foco para a tempestade que ora desabou?
Da mídia é suficiente dizer que sem ela o golpe teria sido impossível, assim como inviável a preservação da capatazia que ora sucumbe às gravações.
Reordenar a sociedade a patrtir de agora, portanto, é uma tarefa que só a rua poderá exercer integralmente, devolvendo-lhe a prerrogativa das urnas.
As sirenes da história anunciam confrontos intensos no front.
Não existe uma fórmula macroeconômica autossuficiente –seja a do golpismo, ou uma de ‘esquerda’ -- para tirar o Brasil do plano inclinado em que se encontra.
O que existe é uma derrocada vergonhosa do conservadorismo que amplia o espaço para o debate das refomas verdadeiramente indispensáveis à destinação convergente do desenvolvimento. A saber:
-uma reforma política para capacitar a democracia a se impor ao mercado;
-uma reforma tributária para buscar a fatia da riqueza sonegada à expansão da infraestrutura e dos serviços;
-uma reforma do sistema de comunicação para permitir o debate plural dos desafios brasileiros –que, insista-se não se resolvem sem ampla e permanente renegociação.
O Brasil será aquilo que a rua conseguir que ele seja. E o momento nunca foi tão propício para escrever isso no asfalto e nas praças de todo o país.