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Sindifisco, 27/09/2017

Casos de suicídio e depressão deixam universidades em alerta

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Por Carta Capital

Diante de cenário preocupante na saúde mental dos alunos, instituições criam programas de apoio psicológico e psiquiátrico

Aos 16 anos, Nathália de Oliveira dorme apenas cinco horas por dia. Desde os sete faz tratamento para transtorno de ansiedade com medicamentos e visitas periódicas ao psicólogo e ao psiquiatra. Sua rotina conta com a escola, cursinho e mais algumas horas de estudo.

A Fluoxetina, medicamento contra a depressão, foi o escolhido por seu médico para a contenção das crises, mas, nos últimos meses, as doses não parecem ser suficientes.“Tento me manter apenas comigo mesma, sem aumentar as dosagens.”

Seu sonho é passar no curso de medicina na Universidade de São Paulo (USP). Para isso, divide diariamente a sala de um cursinho popular de São Paulo com cerca de 100 estudantes. A sensação é de competição a cada segundo. “Parece que em qualquer momento alguém vai passar na minha frente e roubar minha vaga.”

Às vésperas dos principais vestibulares do Brasil, ela sente a pressão aumentar. A medida que os conteúdos das aulas aceleram, os pais, a escola e o próprio cursinho cobram resultados exemplares. Suas respostas são cada vez menos horas de sono, mais horas de estudo e as crises de depressão e ansiedade se tornam mais frequentes. “Por conta dessa pressão estou a cada dia retrocedendo no tratamento”, desabafa.  

A cobrança, no entanto, não parece se encerrar com o nome na lista dos aprovados. 

Ao entrar no curso na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), Juliana* teve que equilibrar a vida social, acadêmica, familiar e amorosa. “Eu entrei lá e fiquei encantada, todos pareciam muito interessantes.” Aos poucos, com a competitividade instaurada no curso, tinha menos confiança nas pessoas com quem se relacionava.

Seu escape para os momentos de extrema tensão eram as festas universitárias. A bebida e as drogas ajudavam Juliana a relaxar. Em uma delas, sofreu um estupro. Em lugar conhecido como “porão” na FMUSP, ela foi violentada. "Eu fiquei sozinha, passei dois meses na cama sem fazer nada e comecei a afundar".  

O anti-depressivo Venlafaxina foi o medicamento escolhido para acompanhar a aluna. Os traumas e a cobrança acadêmica fizeram as doses aumentarem, mas a estudante optou por parar de tomar espontaneamente. “Eu achava que ia passar, que não era nada.” As dificuldades com uso excessivo de drogas, álcool, além de interrupções na medicação, fizeram Juliana parar o curso três vezes, mas hoje sente que aos poucos está melhorando.

O curso de medicina da USP contabilizou só neste ano ao menos 6 tentativas de suicídio, mas outras unidades como a Faculdade de Veterinária e o Instituto de Ciências biológicas tiveram atos consumados. O psiquiatra Eduardo Humes do Hospital das Clínicas de São Paulo, explica que a questão sempre existiu, e falar sobre ela “evita que as pessoas e as instituições joguem o assunto para debaixo do tapete”.