Em meio a uma crise que deve atrasar ainda mais o andamento da Reforma da Previdência, o vice-presidente Hamilton Mourão foi à Fiesp, em São Paulo, com um missão clara: remendar a relações do PIB brasileiro com o governo Bolsonaro. O tom foi parecido com o da campanha.
Mourão atuou menos como antípoda e mais como um emissário de Bolsonaro. A assessoria da Vice-Presidência preparou um esquema para evitar que ele fizesse suas já famosas declarações à imprensa — questionado por um repórter sobre o Congresso, ele ignorou. Também não houve entrevista na saída.
Em pouco mais de cinquenta minutos, o general limitou-se a desfiar as “missões” do governo para uma plateia de centenas de empresários. E fez jus ao Mourão da época de campanha: criticou o salário mínimo (“na verdade, é máximo”) e se referiu à ditadura como “anos gloriosos” da economia do país e defendeu que o pacto social estabelecido pela Constituição seja revisto.
Para o general, é hora de rever esse acordo. Ele citou como exemplo a lei que regula a assistência social e o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Atualmente, o BPC dá um salário mínimo a idosos acima de 65 anos que não têm como se sustentar.
“Esse benefício era dado aos 70 anos. FHC baixou para 67 e Lula, para 65. Porque contribuir [com a Previdência]? Se ele vai receber a mesma coisa sem contribuir. Não há mais como sustentar isso aí”, disse. A declaração vem após um acordo do centrão para vetar mudanças no BPC e na aposentadoria rural.
Evocando Margaret Tatcher e Ronald Reagan, ele também defendeu que o Estado deixe de participar dos mercados: “Não só comércio, mas também saúde e educação. Eles andam com as próprias pernas.”
Foi aplaudido ao prometer endurecer a reforma trabalhista e aliviar a carga tributária aos empresários. “Infelizmente, alguns políticos pensam que estamos no século XIX, e levam direitos a um paradoxo: tudo tem que estar escrito na Constituição. A legislação trabalhista divide o País, a reforma tem que ser levada adiante.”
O vice-presidente partiu na sequência para um jantar com trinta empresários na casa de Paulo Skaf, no bairro do Morumbi. A imprensa não foi convidada.
Fonte: Carta Capital