Nesta terça, conselho votará proposta que limita benefício a quem não tem imóvel próprio na mesma cidade; Veja quem ficaria de fora.
Nesta terça-feira (18), o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) decidirá se os magistrados de todo o país voltarão a receber auxílio-moradia.
O benefício foi extinto em novembro, quando o ministro Luiz Fux, do Supremo Tribunal Federal (STF), revogou uma liminar que ele mesmo havia concedido em 2014, estabelecendo o auxílio-moradia.
A decisão do último mês veio na esteira do reajuste salarial de 16,38% aos ministros do Supremo - que serve de referência para toda a magistratura.
Como o auxílio-moradia era defendido por juízes como uma forma de compensação pela ausência de reajuste salarial nos últimos anos, por acordo, ele foi suspenso no mesmo dia em que o presidente Michel Temer sancionou o aumento para os ministros. A suspensão do auxílio, no entanto, não foi bem aceita pelos magistrados.
Em sua última sessão do ano, nesta terça, o CNJ votará uma proposta de resolução para restabelecer o auxílio com teto de R$ 4.377,73 - valor que já vinha sendo pago anteriormente.
A expectativa é que o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) também aprove novas regras nos mesmos moldes do CNJ.
A diferença da nova proposta, costurada pelo presidente do CNJ, ministro Dias Toffoli, é que há restrições previstas, como a necessidade de comprovação do gasto efetivamente com aluguel.
Também só poderia receber o benefício, segundo o novo texto, o magistrado designado para trabalhar em uma cidade diferente daquela para qual prestou concurso - e só se não houver um imóvel funcional disponível.
Também ficam excluídos do benefício os juízes que possuam imóvel próprio na mesma cidade. Esta exigência é a que promete afastar mais magistrados do auxílio.
Diversas reportagens, em sua maioria da Folha de S. Paulo, no início do ano, mostraram como juízes usufruíam do benefício mesmo tendo imóveis em seu nome na mesma localidade.
Segundo o CNJ, não há estimativa de quantos magistrados estariam aptos a receber o novo auxílio-moradia, mas alguns juízes já ficariam de fora da lista, de acordo com o novo texto, por terem comprovadamente imóvel próprio. Veja alguns deles.
Um levantamento feito pela Folha em fevereiro mostrou que 26 dos 74 ministros do STJ (Superior Tribunal de Justiça), do TST (Tribunal Superior do Trabalho) e do STM (Superior Tribunal Militar) - o equivalente a 35% do total - recebiam auxílio-moradia mesmo com imóvel próprio no Distrito Federal. Entre eles, estavam a então presidente do STJ, Laurita Vaz.
Outro cruzamento de dados feito pela Folha em fevereiro mostrou que 680 juízes que atuam nas justiças estadual, federal, do trabalho e militar na cidade de São Paulo ganhavam auxílio-moradia mesmo tendo imóvel próprio na capital. O valor era de R$ 4.378. Um deles, o desembargador José Antonio de Paula Santos Neto recebia o benefício mesmo com 60 imóveis registrados em seu nome.
O presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo, desembargador Manoel de Queiroz Pereira Calças, chegou a ironizar a questão quando tomou posse, em fevereiro. Ele não só admitiu que tinha muitos imóveis na capital paulista, como disse que recebia o auxílio de R$ 4.378 e que era "muito pouco".
Dois magistrados que foram responsáveis pela condenação em segunda instância do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Victor Laus e Leandro Paulsen, do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), recebiam auxílio-moradia mesmo possuindo imóvel em Porto Alegre, onde trabalham.
O procurador Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa do Ministério Público Federal (MPF) na Operação Lava Jato, também recebia o auxílio-moradia no mesmo valor que os magistrados, mesmo tendo imóvel próprio em Curitiba.
Quando ainda era juiz responsável pelos processos da Lava Jato em Curitiba, Sérgio Moro recebia o auxílio-moradia mesmo tendo imóvel em seu nome na cidade.
O próximo governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, também recebia auxílio-moradia enquanto era juiz, mesmo tendo imóvel na capital fluminense.
Fonte: HuffPost Brasil