Recém-formados no ensino superior encontram dificuldades de inserção no mercado de trabalho e engrossam as altas taxas de desemprego.
As dificuldades para se conseguir trabalho no Brasil aumentaram muito desde o início da crise econômica. Boa parte dos trabalhadores teve que recorrer a ocupações precárias. O desemprego atingiu pessoas de todas as faixas etárias e níveis de escolaridade, ampliando a concorrência entre os trabalhadores. A taxa de desocupação no país passou de 6,9%, em 2014, para 12,0%, em 2018 e, entre aqueles com ensino superior completo, aumentou de 3,7% para 6,1%. O que aconteceu com os recém-formados no ensino superior após a conclusão do curso? Em 2018, aumentou a proporção de recém-formados sem trabalho Fonte: elaboração própria a partir dos microdados da PnadC/IBGE Para os jovens recém-formados no ensino superior, as dificuldades no mercado de trabalho também aumentaram no período, principalmente em postos de trabalho condizentes com o nível
Com a crise, aumentou a proporção de recém-formados no ensino superior que não conseguiu nenhum trabalho. Em 2014, 8% deles estavam desocupados após a conclusão dos cursos e outros 13% estavam inativos (sequer procurando trabalho). Em 2018, os percentuais aumentaram para 14% e 15%, respectivamente. Embora menor que em 2014, o percentual de recém-formados que, em 2018, conseguiu trabalho ainda era alto: 72% (diante de 79%, em 2014) –Gráfico 1. Contudo, entre os que conseguiram trabalho, diminuiu a proporção dos que estavam em postos que demandavam ensino superior. Em 2014, 51% dos jovens recém-formados que estavam trabalhando, com idade entre 25 a 29 anos, ocupavam postos de trabalho que exigiam formação superior, enquanto em 2018, o percentual na mesma posição era de 35%. Para aqueles que tinham entre 30 e 44 anos, o percentual nessas vagas passou de 51% para 18%, entre 2014 e 2018. Qual era o percentual de jovens formados que conseguiram um trabalho típico de ensino superior? Em 2018, caiu a proporção de recém-formados em trabalhos típicos Fonte: elaboração própria a partir dos microdados da PnadC/IBGE O rendimento médio dos recém-formados diminuiu, entre 2014 e 2018, principalmente para os que estavam em postos de trabalho que exigiam a formação superior.Isso pode ter ocorrido devido ao aumento da oferta de mão de obra (mais qualificada e experiente) em decorrência da crise do emprego, o que pressiona negativamente os salários. Assim, os recém-formados disputam vagas de trabalho com trabalhadores formados há mais tempo e com mais experiência e, por isso, acabam aceitando salários menores do que os oferecidos em tempos de crescimento econômico.
No mesmo período, a variação dos rendimentos foi menor entre os que estavam em um posto de trabalho que não demandava ensino superior, seguindo a tendência geral do mercado de trabalho. Nessas ocupações, os recém-formados enfrentam também a concorrência de pessoas com menos anos de estudo, o que contribui para que esses trabalhos ofereçam remunerações mais baixas. Diminuiu o rendimento médio dos recém-formados Fonte: elaboração própria a partir dos microdados da PnadC/IBGE Há indícios de que fatores ligados à origem socioeconômica dos recém-formados influenciam na forma como eles se inserem no mercado de trabalho. Em 2018, estava sem trabalho quase metade (45%) dos recém-formados cujos domicílios tinham rendimentos per capita de até meio salário mínimo. Essa proporção era o dobro da verificada nos domicílios com rendimento per capita de mais de dois salários mínimos (22%). Entre os formados dos domicílios mais pobres, apenas 19% tinham conseguido um posto de trabalho em que era necessária a formação superior. Já nos domicílios mais ricos, 36% dos recém-formados estavam em ocupações que demandavam ensino superior. Vários fatores relacionados às desigualdades de oportunidade podem estar por trás desse quadro. Por exemplo, filhos de famílias mais ricas dispõem de relações familiares (e o chamado networking) e de recursos financeiros tanto para poder frequentar cursos mais prestigiados quanto para abrir um negócio próprio (como no caso dos profissionais liberais, que podem abrir e manter consultórios ou escritórios) e isso facilita a inserção ocupacional nas áreas de formação. Outro fator é que, devido às condições familiares pré-existentes, muitos jovens universitários de menor renda acabam se inserindo no mercado de trabalho em ocupações que não têm relação com a formação universitária. Tais experiências profissionais acabam sendo consideradas pouco relevantes para a maioria das vagas típicas de ensino superior, se comparadas com os estágios na área de formação. O que aconteceu com os recém-formados em 2018, segundo o rendimento domiciliar per capita? Até dois salários mínimos, havia mais pessoas sem trabalho do que em trabalhos com exigência de ensino superior Fonte: elaboração própria a partir dos microdados da PnadC/IBGE
Considerações finais
A crise econômica afetou bastante a inserção dos que terminaram um curso de ensino superior recentemente: diminuiu a possibilidade para a conquista de um trabalho na área de formação e os rendimentos foram rebaixados. O país ainda patina e não consegue engatar crescimento consistente para, pelo menos, incorporar os novos formados em cursos superiores. Mas não podem ser desconsiderados alguns elementos que parecem ser estruturais: os recém-formados nos domicílios mais pobres enfrentam maiores dificuldades para conseguir trabalho e mais ainda um trabalho na área em que se formaram no ensino superior. A forma como se dá o ingresso de um profissional no mercado de trabalho pode ser determinante na definição das oportunidades de trabalho e de carreira que surgirão na vida dele. No cenário atual, a falta de oportunidades no mercado de trabalho, em decorrência da economia que cresce pouco, pode ter impacto duradouro nas carreiras de toda uma geração que está se formando no ensino superior durante o período de crise. E esse impacto é ainda maior entre os jovens que vêm de lares mais pobres, reduzindo inclusive os efeitos positivos das políticas de educação das últimas duas décadas, que ampliaram o acesso aos estudos para essa parcela da população e poderiam contribuir com o combate às desigualdades.